Gente & Gestão

Dilemas de carreira: 

quando o agora põe em risco o futuro

Sobreviver à crise do momento presente pode representar um custo altíssimo para a concretização do projeto de carreira de longo prazo. Decisões equivocadas têm potencial para criar distâncias intransponíveis para a concretização dos planos traçados. Por outro lado, a leitura adequada do cenário, a postura adotada diante dos obstáculos e o aprendizado obtido podem abrir novas perspectivas e oportunidades.

José Augusto Figueiredo Lee Hecht Harrison no Brasil

O Gente & Gestão do Panorama Executivo traz o ponto de vista de José Augusto Figueiredo, presidente da Lee Hecht Harrison no Brasil e vice-presidente para a América Latina, na segunda entrevista da série Gestão da carreira em tempos de crise.

Panorama Executivo – Em tempos de tamanha incerteza, como gerenciar a carreira?

José Augusto Figueiredo – A gestão da carreira contempla uma perspectiva de longo prazo. Quando surge uma crise que se prolonga por um período mais dilatado, conciliar o futuro lá na frente e as necessidades do curto prazo se assemelha à tentativa de misturar azeite e água. A dificuldade está colocada, e o projeto de carreira, permeado por objetivos e sonhos, ingressa em uma situação de dilema – condição essa nem sempre solucionável, mas passível sim de ser devidamente administrada.

Panorama Executivo – Como isso ocorre na prática?

José Augusto Figueiredo – Imagine o profissional que está bem posicionado, cumprindo a contento uma etapa de sua trajetória plenamente alinhada a seus planos e, de repente, uma contingência transforma completamente essa realidade, desencadeando uma crise. Que atitude tomar? Simplesmente interromper os planos, abrir mão do projeto ou se desligar da organização? Ou, quem sabe, desenvolver certa tolerância para compreender os novos parâmetros e readequar a perspectiva? No meu ponto de vista, tolerância é um fator relevante para uma efetiva gestão da carreira.

“Crises e superação de dificuldades são fontes de grande aprendizado”

Panorama Executivo – Quais os riscos quando esse aspecto não se evidencia?

José Augusto Figueiredo –  A intolerância pode desencadear rupturas, ocasionando mudanças de carreira ou de empresa sem a devida reflexão e sem o cuidado requerido. Mais tarde, o profissional descobre que construiu sua trajetória ao estilo de uma colcha de retalhos, com base em decisões calcadas no curto prazo e em questões circunstanciais. Em consequência, acaba encontrando dificuldades para explicar e justificar as escolhas realizadas.

Panorama Executivo – Como lidar com as turbulências que atravessam o nosso caminho?

José Augusto Figueiredo –  O enfrentamento das crises e a contribuição dada para a superação de dificuldades são fontes de grande aprendizado. Nesse sentido, vale até se distanciar daquele plano maior de carreira para agir pontualmente, mas sempre de forma consciente e com a determinação de retomar a rota na primeira oportunidade.

“Visão de helicóptero permiti olhar mais abrangente, acima do momentâneo”

Panorama Executivo – Em um universo tão dinâmico, como delinear o futuro?

José Augusto Figueiredo – A prática do coaching é interessante como exercício para pensar o futuro da carreira e construir o caminho. Serve também para colocar em xeque certezas arraigadas e convicções que se tornaram anacrônicas. Networking com pares, interface com especialistas, participação em palestras e eventos e leitura qualificada também contribuem para ampliar os horizontes, permitindo a abertura necessária para acolher e criar o novo.

Panorama Executivo – De que maneira manter o prumo e não desanimar diante dos obstáculos?

José Augusto Figueiredo – Planejamento e gestão da carreira demandam visão de helicóptero, de modo a permitir um olhar mais abrangente, acima do momentâneo e para além da temporalidade. Desde esse ponto de vista, tem-se o contexto geral e a perspectiva da trajetória e do projeto de vida que imprimem significado ao trabalho. A capacidade de realizar esse sobrevoo ganha importância em um contexto disruptivo e em permanente transformação, com impactos profundos para o mercado de trabalho e para os negócios. Industrias inteiras correm o risco de desaparecer, grandes players enfrentam a competitividade de novos entrantes e as tecnologias emergentes não param de surpreender, impondo novos paradigmas e grandes desafios.